9/27/10

A Arte de Enganar o Povo

Antigamente, quando o mundo era mais ingênuo, a propaganda anunciava somente as qualidades do seu produto. O sabão era bom porque lavava mais branco. A geladeira era a melhor porque, além de gelar bem e mais rápido, era a mais econômica e durava mais. A roupa era boa porque era resistente e mais fácil de passar. O jornal era o melhor porque era o mais objetivo, tinha a melhor diagramação e a equipe de colunistas era excelente.

Hoje já não se vende um produto pelas qualidades intrínsecas dele. A propaganda se especializou em vender sonhos. A pessoa torna-se cliente de um banco não porque as suas taxas são mais baratas, seu atendimento é mais rápido e menos burocrático, mas porque é o banco onde “a vida fica mais fácil”. Você não compra um sabão em pó, você consome “o branco que devolve a alegria da infância”. Você não toma um simples refrigerante, você experimenta “uma nova sensação”. A sua pasta de dente não é escolhida pela sua eficácia, mas porque “é o gosto da vitória”.

Acontece o mesmo com a política. Em anos eleitorais, muitos candidatos saem dos seus partidos (senti desejo de usar a palavra covis) muito bem retocados pela propaganda política. Todos são apresentados como príncipes encantados, mas muitos, quando receberem o beijo do seu voto, se transformarão em sapos matreiros. Aí, será tarde demais, e a vida do nosso povo irá mais uma vez pro brejo.

Em 2Sm 13 a 18, temos o primeiro relato bíblico de um político astuto em plena campanha eleitoral. Se não tivesse vivido nos distantes dias de Davi, poderíamos confundi-lo com muitos dos nossos atuais políticos. Ele tinha uma personalidade marcante e carismática. Além disso, era atraente e simpático. Mas, após subir ao poder, tornou-se um manipulador, impiedoso e imoral. Na sua ambição, apresentou-se como um homem justo, mas logo depois se revelou um homem astuto, vivendo de enganos e egoísmos.

O candidato Absalão se apresentou ao eleitorado ostentando poder. Chegava aos comícios com vários batedores na frente. Aquilo impressionava, já que muita gente se deixa levar pelo dinheiro, os bens, e as influências do candidato. Se ele já possui poder, muitos acham que está se candidatando pensando no bem-estar do povo, e não por aspirar mais poder. O mote da sua campanha era: “Justiça para todos!” Naquela época, o rei era o juiz. Na sua estratégia, dizia em comícios: “Ah! Quem me dera ser juiz na terra, para que...lhe fizesse justiça!” E, no corpo-a-corpo, ouvia as reclamações das pessoas e prometia mudanças. Sobretudo, gostava de falar mal do opositor: “Olha, a sua causa é boa, pena que você não tem um rei que lhe ouça”. As pessoas, iludidas, achavam que teriam uma justiça melhor, finalmente. Muito cuidado com os Absalões de hoje que prometem o que não podem cumprir, e fazem campanha atacando os adversários, mas nunca apresentando idéias e planos exequíveis.

Outra estratégia usada para impressionar o povo a era bajulação. Salomão beijava criancinhas, tomava café nas casas, comia nas feiras, elogiava as pessoas, e assim o povão se sentia importante. Ele sabia que muitos não conseguem enxergar interesses suspeitos por trás de aparentes cortesias. Mas o golpe de mestre era dado demonstrando religiosidade e devoção. Com um discurso piedoso, ele conseguia votos de pessoas que pensavam colocar no poder alguém comprometido com a sua fé. Como acontece hoje, com a proliferação de inúmeros candidatos evangélicos que estão tão comprometidos com Cristo assim como uma raposa cuida de um galinheiro.

Muitos não votam num candidato, mas numa propaganda. Então, muito cuidado com os Absalões de hoje. Este ano teremos eleições municipais. Não vote num sonho. Com seu voto você pode tirar os Absalões que já estão no poder, e evitar que outros assumam a sua vaga.
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