11/8/11

Coisas do Futebol

Como qualquer criança, houve um tempo em que o meu maior sonho era ser jogador de futebol. Sonhava com os aplausos e o reconhecimento nos gramados. Só não cheguei a treinar num clube profissional porque, naquela época, minha mãe dizia que “futebol não dava camisa a ninguém”. Na verdade, ela nunca chegou a dizer que “futebol era ovo do diabo”, como igrejas já disseram num passado mais remoto, mas mostrava que havia inúmeros inconvenientes em se jogar futebol aos domingos. Assim, embora criado próximo a um campinho de futebol, deixei de jogar até muitas finais de campeonatos de bairro porque eram disputados num domingo.

O tempo passou e Baltazar, João Leite, Silas e muitos outros craques demonstraram que minha mãe estava errada. Futebol dá camisa, sim. E mais: jogador crente, realmente comprometido com Cristo, bom de bola, tem oportunidades inigualáveis de testemunhar de Jesus para os colegas e para a torcida. Aliás, convivendo com muitos desses “atletas de Cristo”, via que oravam pedindo a proteção de Deus livrando-os das contusões e oportunidades para que, através dos meios de comunicação, dessem testemunho da sua fé em Jesus.

Tudo isso me veio à mente quando alguns anos atrás acompanhei o drama dos times baianos. Os dois grandes de lá, Bahia e Vitória caíram para a terceira divisão. O cenário baiano era de consternação. Logo me lembrei de Nenê Prancha que cunhou uma das frases mais conhecidas do futebol: “se macumba ganhasse jogo o futebol baiano acabaria empatado.” Nenê sabia que, nessas horas, para que seus times ganhem os jogos, muitos apelam para o sobrenatural, fazendo mandingas, rituais de magia negra, simpatias e outras superstições.

O pior de tudo é que as pessoas estão transferindo isso para a fé cristã. Estão “macumbando o cristianismo.” É que a fé cristã é vista hoje como uma maneira de se manipular Deus e os poderes espirituais para que nossa vontade seja feita. Nesta ótica, têm de mexer os pauzinhos para que um Deus indeciso lhes dê boas coisas. É assim que muitos ficam nas mãos de espertalhões, verdadeiros gurus, que garantem conhecer técnicas para manipulá-lo. É tolo quem acredita nisso.

O cristianismo não é uma maneira de se conseguir as coisas de Deus. Deus deve ser amado pelo que é, deve ser buscado pelo que é; nunca pelo que pode nos dar, ou pelo que julgamos que ele deve nos dar. O primeiro mandamento nos diz para amarmos a Deus com todo o nosso coração, alma e entendimento. Devemos amá-lo acima de tudo. As nossas orações são feitas, sim, para que Ele fortaleça o nosso ânimo e nos capacite a viver de acordo com a sua vontade.

Estavam certos aqueles nossos velhos “atletas de Cristo”. Na religião cristã nós não usamos Deus, mas somos usados por Ele. Na fé cristã deixamos que Ele nos molde; transforme e faça o que quiser das nossas vidas.

Não sei se os dois clubes baianos rebaixados usaram de mandingas. Mas lá em Angola, anos atrás, no jogo entre o Primeiro de Agosto e o Benfica de Luanda, os dois goleiros não entraram em campo com seus times. É que ambos tinham ido ao mesmo pai de santo que lhes garantira que ganharia o jogo aquele que entrasse por último no gramado. Resultado: o árbitro cansado de esperá-los, os expulsou antes mesmo que entrassem. A macumba só atrapalhou seus times.
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