10/11/11

Adoração Produz Desejo de Servir

Na minha juventude usava um cabelo grande, arrepiado e, por que não dizer, horrível. Mas era a moda. Todo mundo usava cabelo grande. Namorava a Jane e, aos sábados, o pai dela perguntava: “O cabeludo vem aí, hoje?” Um dia, precisei tirar fotos para a carteira de identidade. Não sei como é hoje, mas naqueles dias o mínimo que se tirava eram seis fotos. Elas sobraram e, muito tempo depois, foram achadas pela minha filha Susana, e imantadas na geladeira lá de casa, com os seguintes dizeres: “procura-se: vivo ou morto?” Acho que afastava as moscas. Susana, na sinceridade da sua infância, olhou pra aquele pavoroso cabeludo, e perguntou: “Mãe, como é que você conseguiu gostar do pai, sendo ele tão feio?” Acho que a Jane lhe disse que “o amor é cego, surdo e mudo”. A minha resposta, hoje, é: “foi a graça de Deus”.

Você pode até rir do que está aí em cima, mas quem diria que um dia você, ou a sua filha, gastaria uma boa quantia de dinheiro para comprar uma calça comprida rasgada, num lugar sofisticado? Daqui a vinte anos quem estiver vivo rirá disso. E, talvez envergonhado, se lembrará que, quanto mais rasgadas, as calças ficavam mais caras. Mas hoje é moda, e muitas pessoas são reféns dela.

No meio evangélico também há modas. Veio a moda dos dons espirituais. Não se ia a um encontro evangélico sem que não se falasse do tema. Podia ser aqui, no Brasil, na Europa, ou na Conchinchina, que todo crente queria saber alguma coisa sobre dons espirituais. Até que veio o tempo da batalha espiritual. Se não estou enganado, a onda surgiu com o advento do livro “Neste Mundo Tenebroso”, de Franck Peretti. Igrejas faziam simpósios e não havia congressos de pastores, de jovens, de mães, de músicos, e até de rol-de-bebês em que o assunto não fosse abordado. Como sempre, surgiram centenas de livros sobre o tema, e até alguns poucos bons. Batalha espiritual fez também o ibope do diabo subir nas igrejas, a ponto de ele quase se tornar central na fé cristã. Tudo era o diabo. Não se ia a um culto sem que ele não fosse lembrado. Cunhou-se também a frase, não bíblica: “está amarrado em nome de Jesus”. Não havia reunião evangélica em que ele não fosse amarrado. Amarravam-no tanto, que ficava a pergunta: quem será que o soltava de novo? Outra vez, livros em catadupas foram consumidos pelos crentes. A febre passou para o tema adoração. Tudo era adoração. Embora hoje já não seja assunto central, adoração ainda é discutida.

Quem vai à Bíblia, encontra Isaías tendo uma experiência fascinante de adoração. Mas ele não ficou apenas contemplando ao Senhor. Ele se confrontou com a santidade de Deus; sentiu o seu pecado; confessou suas faltas; foi perdoado, e se ofereceu para o serviço. Agraciado por Deus, ouviu a sua voz, e se apresentou para a obra: “Eis-me aqui, envia-me a mim”, disse. É que adoração produz desejo de servir. O adorador cristão não é um místico. Hoje há uma massa de pessoas nos cultos, empanzinada em adoração, que não trabalha, só canta, canta, canta; pula,pula,pula; chora, chora, chora; celebra,celebra, celebra, e não faz mais nada! Adoradores ociosos. Só vêm aos cultos para adorar ou se fortalecer. Mas, a verdadeira adoração produz consagração. A pessoa diz: “eu quero fazer alguma coisa, eu quero me envolver com a obra”. Além de Isaías, foi essa a experiência de Pedro. Após declarar seu amor a Jesus, ele ouviu o Mestre lhe dizer: “apascenta as minhas ovelhas”. Assim, se você realmente adora a Deus, isso produzirá um incontido desejo de trabalhar em prol do seu reino. Ah!, só mais uma coisinha: adoração verdadeira nunca sai de moda. O resto é conversa mole pra boi dormir.
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