7/1/11

Por Que Pregar o Evangelho?

Quando me conscientizei de que era gente, o Brasil estava na época da ditadura militar. Cursava o ginasial (hoje, segundo segmento do ensino fundamental) numa escola pública e todas as terças-feiras o seu diretor, um militar frustrado, colocava as turmas em forma e fazia discurso tipo “ordem unida”. Postados, ouvíamos aquele monte de baboseiras. Depois, cantávamos o hino nacional brasileiro. Então, finalmente, podíamos ir para as salas de aula.

Às segundas-feiras, na entrada da escola, a direção passava em ordem os nossos uniformes. Todos eram revistados. Na porta de entrada, os inspetores mandavam que levantássemos as calças. Queriam ver se a meia era preta. Se fosse azul escuro voltávamos para a casa. O cabelo dos rapazes não podia subir na orelha. O emblema da escola, no peito, e as divisas, nos ombros, tinham de estar fixadas no uniforme. A saia das meninas tinha de estar no comprimento exigido. Qualquer deslize era motivo para se mandar de volta pra casa. O recalcitrante ficava suspenso mais dias.

Do lado de fora, o governo militar fazia aquelas propagandas cívicas, tipo: “Brasil: ame-o ou deixe-o!” Na escola, na semana da pátria, éramos obrigados a marchar, cantando: “Eu te amo meu Brasil, eu te amo, meu coração é verde, amarelo, branco, azul anil.” Eu simplesmente odiava tudo aquilo. Pior, cresci confundindo pátria com governo. Como não gostava do governo, também não gostava da pátria. Por tudo isso, tinha vergonha da bandeira do Brasil e dos símbolos nacionais.

Paralelamente, na igreja, aos domingos, vibrávamos com Missões Nacionais. Era uma igreja pobre, no subúrbio do Rio. 60% dos seus membros moravam em uma favela próxima. Mas a pobreza não era desculpa para não darmos uma boa oferta para Missões. Por amor a Missões e à evangelização do Brasil, os crentes se viravam: uns vendiam sacolés, outros bolinhos de aipim, pastéis e cocadas. Alguns juntavam jornais, faziam biscates ou davam um jeito. Mas quando chegava o “Dia de Missões Nacionais”, em setembro, sempre o nosso alvo arrojado era ultrapassado. O dia da oferta era um dia de milagres e um dos mais alegres na igreja. Como uma igreja tão pobre conseguia levantar tantos recursos para Missões? No final do culto, cantávamos a plenos pulmões: “Minha pátria para Cristo, eis a minha petição. Minha pátria tão querida, eu te dei meu coração... Salve Deus a minha pátria! Minha pátria varonil. Salve Deus a minha terra, esta terra do Brasil.” Foi essa igreja que me ensinou amar Missões.

Por tudo isso, cresci dividido quanto ao Brasil. No meio da semana o sistema me ensinava a odiá-lo, mas no final de semana a igreja me ensinou a amá-lo. No meio da semana torcia contra o regime e a favor de todos aqueles que sonhavam com liberdade e lutavam por ela. No final de semana, sonhava com a liberdade espiritual do brasileiro. Assim, orava pelo Brasil profundo, formado por um povo simples, amigo, carente, acolhedor, trabalhador, alegre e ordeiro que precisava conhecer Jesus e seu evangelho.

Hoje, a vida deu voltas. Aprendi a dissociar pátria de governo. Também aprendi a amar o meu país. Já não temos ditaduras, mas ainda há muitos políticos e governantes que continuam a nos decepcionar. Só produzem frustrações e vazio. Só que, em mais de quarenta anos, Jesus nunca me decepcionou. Quando penso em tudo o que Ele já fez por mim, sinto segurança e confiança. É por isso que amo Missões e ainda creio que devo pregar as boas notícias de Jesus ao povo brasileiro. Quero desafiá-lo a também se engajar nesta obra. A mensagem bíblica do evangelho faz com que a decepção se transforme em esperança.
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