7/20/11

"O Importante é que Emoções eu Vivi!"

Anos atrás, a PIBT preparou um musical que envolvia a participação de coros, orquestras, cantores, coreografias e um grupo teatral. A preparação foi trabalhosa. Muitos crentes se envolveram nos ensaios musicais, outros na parte elétrica e na peça teatral. Alguns ajudaram no som, na montagem do palco e no audiovisual. Alugamos um teatro na cidade, e por dois dias apresentamos a mensagem do amor de Deus, exaltando a bênção de termos Deus conosco. Ao final, várias pessoas fizeram decisão por Cristo. Poucos dias depois fui visitar um dos decididos, que me recebeu muito bem na sua casa. Ele me disse que, tocado pela emoção, resolveu ir à frente pedindo as bênçãos daquele Deus na sua vida. Passou. Agora, ele estava envolvido numa campanha política prestes a começar na cidade, mas depois se dedicaria ao Senhor. Sumiu. Aquilo foi apenas uma emoção.

O culto já havia começado quando o rapaz de meia idade, com uma tala que cobria um machucado no pé, entrou e sentou-se num dos nossos primeiros bancos. Ao longo do culto, ele ora desfazia a tala e tornava a enfaixar o pé. Parecia um pouco alheio, até que chegou o momento da mensagem, quando ele prestou muita atenção. Ao apelo do pastor, surpreendentemente, ele veio à frente, abriu as mãos, e num grito lancinante disse: “eu entrego a Cristo tudo o que tenho e sou!” A congregação reagiu num misto de medo e fascínio. Talvez Deus tivesse realmente tocado aquele homem, ou era um louco. O tempo passou, ele voltou outras vezes ao nosso templo, mas nunca se comprometeu com Deus nem com nada. Foi apenas uma emoção.

Num culto de Missões, o missionário começou a dar testemunho daquilo que Deus estava fazendo no seu ministério. Sentado no meio do templo, o rapaz profundamente tocado, pensou: “vou dar uma grande oferta para Missões”. O missionário contou das suas dificuldades e como, mesmo assim, Deus estava atraindo muitas pessoas a fé. O rapaz eletrizado com aquilo, pensou: “quem sabe vendo a minha motocicleta e dou um pouco mais para Missões”. O missionário então citou as limitações e necessidades, e o garotão pensou: “vou doar todo o meu salário para Missões”. O missionário prosseguiu, agora lendo um texto bíblico, de onde embasava a sua fala. O moço pensou: “quem sabe largo meu emprego, e dedico toda minha vida para Missões.” Mas o missionário não falava pouco, e a pregação se estendeu. Então, o rapaz começou a se desligar da mensagem, pensando: “não, vou dar apenas aquela oferta inicial de Missões. Se Deus fez Missões até agora sem mim, eu não sou tão importante assim.” O pregador não parava de falar, e o rapaz, já preocupado com o relógio e impaciente com a pregação, disse: “não, não preciso dar oferta nenhuma. Vou orar para que Deus ensine esse missionário a falar pouco”. O culto acabou, e o rapaz foi embora. O seu envolvimento com Missões não passara de breves e intensos momentos de emoção.

O alvo de muitas pessoas no culto atualmente é experimentar a letra da música mais cantada por Roberto Carlos nestes últimos 25 anos: “se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi.” Eu até poderia começar esse artigo sobre o comportamento do evangélico nos templos, hoje, com o mesmo clichê do cantor: “são tantas emoções!”

A emoção faz parte do culto. Algumas vezes fico profundamente emocionado enquanto estou pregando. Aí, a voz fica um pouco embargada, e eu me esforço para prosseguir, sem que isso afete o meu raciocínio e, consequentemente, a pregação. Outras vezes ouvimos músicas, pregadores, e somos quebrantados pelo Espírito Santo. Mas não se vive a fé cristã apenas de emoção. Há muitos crentes que classificam se um culto foi bom ou ruim pela emoção que sentem. Mas você pode ir a um teatro, e lá também vai sorrir e/ou chorar. Pode ir ao estádio e vibrar ou se desesperar com o seu time de futebol. Só que isso também vai passar. A fé cristã é muito mais que emoção. É fidelidade. É levar a sério os desafios de Deus para a sua vida. É o empenhar da palavra dada a Deus. É assumir um compromisso de fé e lealdade a Jesus. Aliás, eu defino melhor a fé cristã assim: “Para Deus, mais importante que as emoções é o compromisso que assumi e cumpri.”
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