6/21/11

Medo do Silêncio

Vivendo fora do Brasil por uns anos, de longe aprendi a identificar grupos brasileiros. Era simples: todos falavam e ouviam ao mesmo tempo. Percebi claramente isso diante da postura dos portugueses. Num grupo, quando dois deles falavam ao mesmo tempo, ambos interrompiam a fala imediatamente, pediam desculpas, e davam oportunidade ao outro de se expressar. Coisa que raramente acontece conosco.

O homem moderno se incomoda com o silêncio. Muitas pessoas, vindas do trabalho, mal chegam a casa e a primeira coisa que fazem é ligar o som ou a televisão, mesmo não querendo ouvir música ou qualquer programa na TV. É a pessoa que entra no carro e logo liga o aparelho de som. Ela simplesmente não topa o silêncio. Precisa ter a sensação de que não está só.

De fato, ficar em silêncio pode ser insuportável. A pessoa pode descobrir, no silêncio, o quanto a sua vida é fútil. O silêncio pode nos segredar que falta-nos sentido pra vida. Ele até mesmo pode, aos gritos, mostrar realidades nossas que preferíamos que ficassem adormecidas.

Quando era pastor em Guaíba, no sul do Brasil, conheci o Jorge Sasso. Um cara bem apessoado, educado, bem empregado, com casa e carro próprios e solteiro. Jorge era dessas pessoas que toda mãe gostaria de ter para genro. Além de trabalhar muito, ele fazia caratê, pintura e vários cursos. A sua vida era extremamente agitada. Quase nunca estava parado. Sempre tinha coisa pra fazer. Um dia, recebeu um golpe de caratê, no pescoço, e teve de ser levado às pressas para o hospital. Ficou seis meses engessado das pernas até a cabeça. Aí, imobilizado, descobriu porque não parava: era um sujeito vazio. Percebeu que a única maneira de não ter de lidar com a falta de sentido da sua vida era fazendo coisas. Como não podia se mexer pra nada, desejou a morte. Então, gritava, pedindo às enfermeiras que o matassem.

Houve um tempo em que o silêncio era precioso aos templos cristãos. Era sinal de respeito e de sintonia espiritual. Com frequência, encontrávamos placas espalhadas pelo santuário, dizendo: “silêncio e oração”. Algumas igrejas chegavam a pintar nas paredes frases bíblicas, como: “O Senhor está em seu santo templo: cale-se toda a terra”. Até mesmo nos cultos havia o silêncio de contrição. Era quando o crente reverenciava o seu Deus e se recolhia para ouvir o Senhor falar ao seu interior. Também, muitas vezes, o silêncio do adorador era um meio dele expressar a inadequação das suas palavras diante de Deus. Nesse tempo, culto era um convite à introspecção e à oração.

Mas, hoje, igreja calada não dá ibope. Silêncio se tornou sinônimo de desânimo e tristeza. As nossas igrejas que, outrora eram lugares de silêncio, reflexão e santidade, tornaram-se locais de barulho. E já que culto se tornou sinônimo de festa, por associação, ele deve ser cheio de algazarra, irreverência e estridência. Antigamente os crentes estremeciam ante a presença santa de Deus. Hoje estremecem pela altura das caixas de som. Para muitos, uma igreja avivada tem de ser barulhenta e agitada. Quando uma igreja é reflexiva e ordeira costuma ser vista por muitos como sem vigor espiritual. Confundem barulho com poder.

Quando penso nisso me lembro de Elias. Ele estava numa tremenda depressão. Pediu a morte e achava que era o único fiel a Deus. Assim, Elias decidiu entrar numa caverna. Com muita paciência, Deus lhe disse para sair dali, pois ia se manifestar a ele. Então, diz a Bíblia, Deus enviou um grande e forte vento, depois um terremoto e ainda um fogo, mas o Senhor não estava em nada disso. Depois lhe enviou uma brisa mansa e suave. Ali, naquele lugar calmo, Deus falou ao coração de Elias e levantou-o.

Talvez Deus não tenha ainda falado como quer ao seu coração porque você anda muito agitado. Sua vida é um grande barulho? Então, aquiete-se. Entre no seu aposento, como ensinou Jesus, e abra-se para Deus. Descobri que Deus tem predileção pelo silêncio. É na quietude que Ele gosta de ter um encontro com as nossas vidas. Então, não tenha medo do silêncio. Deus muitas vezes se revela ali. Ouça-O.
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