5/19/11

Sarampo, Sansão e Adolescência

“A adolescência é uma doença benigna, parecida com sarampo. Ela se cura por si mesmo, e raramente deixa sequelas”, diz Rubem Alves. É um período da vida em que o corpo experimenta mudanças físicas: aparecem pelos, a voz se altera e desenvolvem-se os órgãos sexuais. Aquela criança que era dócil e meiga vai ficando maior que os pais. E, agora, tudo o que ela não quer é ser tratada como criança, principalmente diante do grupo. Aliás, ser visto como uma criança é algo simplesmente insuportável para ela.

Rubem Alves tem a tese de que o surgimento dos pelos na adolescência torna-os portadores da “síndrome de Sansão”, assim explicada: “Como o segredo da força de Sansão estava no seu cabelo, por uma perturbação mental, o adolescente também pensa que os seus pelos lhe dão poder". Com isso, já não querem ir aos mesmos lugares que os pais frequentam, não falam a mesma língua e também não estão muito interessados em diálogo com eles, principalmente quando estão com o grupo.

A infância é uma época bela, mas toda criança é muito egoísta. Criança se relaciona com os outros pensando nela e no seu bem-estar. É preciso amadurecer para começarmos a pensar nos outros. A adolescência é uma ótima ocasião para isso. Daí a importância do adolescente ter um amigo do peito, antes mesmo de começar a namorar. Com o amigo do peito, o adolescente aprende a compartilhar gostos, ideias e sentimentos com alguém que ele confia, sem ter que se envolver fisicamente com esta pessoa. Com um grande amigo do mesmo sexo ele aprende a valorizar o companheirismo, a amizade e o amor. Um amigo assim fará com que crie vínculos preciosos e aprenda a respeitar o outro. Será capaz de discordar do amigo em tudo e, ainda assim, ouvir os seus conselhos.

Aliás, gosto da maneira sincera como os adolescentes, geralmente, se tratam. É verdade que, às vezes, usam uma linguagem dura, caindo mesmo para a grosseria. Mas costumam ser leais. Há pouco tempo acompanhei uma conversa entre quatro deles. Em determinado momento, um flexionou o verbo de maneira errada e foi logo corrigido pelo colega. Claro que se um adulto usasse aquele tipo de linguagem ocorreria um terremoto, de nono grau na Escala Ritcher, no relacionamento. Mas entre eles é diferente. Eles falam na lata, mas se respeitam.

Só depois de ter um amigo do peito é que o adolescente está emocionalmente apto para pensar num namoro. Ele terá aprendido a ver a perspectiva do outro e será capaz de se relacionar com uma pessoa do sexo oposto, não voltado para si, mas para o bem-estar do outro.

Namoros pegajosos são sintomáticos de casais que não amadureceram. São duas pessoas que se relacionam uma com a outra, mas cada qual voltada para si. São duas crianças querendo tirar proveito uma da outra. O pior é que existem muitos marmanjos que nunca saíram da fase infantil. Eles continuam se relacionando com as pessoas pensando somente neles. São as crianças que mais dão trabalho. Mas, no amor verdadeiro relacionamo-nos com o outro buscando o bem-estar dele. Aliás, já dizia o apóstolo Paulo: “O amor não busca os seus próprios interesses”.

Por tudo isso, é importante que os pais ensinem a criança no caminho em que ela deve andar, e deixem o exemplo. Façam tudo o que puderem para inserir no coração da criança valores bíblicos e eternos, enquanto ela é pequena. Procurem fazer com que cresçam no ambiente da igreja, para que seus amigos sejam também pessoas que temam a Deus e tenham princípios cristãos. Acima de tudo, orem para que Deus tenha misericórdia deles. Mas não se desesperem. Lembrem-se: adolescência é como sarampo, logo vai passar.
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