4/30/11

Qual Será o seu Epitáfio?

Gosto daquela velha história de um funeral em que o pastor elogiava tanto o defunto que, a determinada altura, a viúva chamou o filho mais velho, e pediu que fosse até a urna para ver se era mesmo o pai dele que estava lá.

Agora, pela internet, o irmão Aelmo Queirós me enviou epitáfios de algumas lápides funerárias chilenas. Um dizia assim: “Aqui descansa a minha querida esposa Brujilda Jalamonte (1973-1997). ‘Senhor, receba-a com a mesma alegria com que eu a te envio’”. Outra lápide apresenta: “Tomas Chichilla, 1967-1989. ‘Agora estás com o Senhor. Senhor, cuidado com a carteira’”. Uma terceira diz: “Gustava Gumersinda Guzman (1934-1989). Recordação de todos os teus filhos (menos Ricardo que não deu em nada)”. E, por fim esta: “Aqui descansa Pancrazio Juvenales (1968-1993). Bom esposo. Bom pai. Mal eletricista. Caseiro”.

Vivi alguns anos em Portugal, suficientes para perceber a diferença da nossa cultura para a deles. Quando não gosta de uma coisa, o brasileiro raramente é direto e franco. Para dizer o que não lhe agrada dá voltas, faz alguns elogios, estica a conversa e, quando já está de saída, timidamente diz: “ah, eu queria dizer também...”. Já o português, com honrosas exceções, é curto e grosso. Ele diz logo, e com todas as letras, aquilo que o incomoda. Geralmente vem chumbo grosso.

Um brasileiro não poria num epitáfio que o sujeito roubava carteiras, que era péssimo eletricista ou que não deu em nada. Mesmo que não tivesse virtudes, nossa turma gosta de um panegírico. É o político corrupto, ladrão sem vergonha, que, no funeral, transforma-se numa grande alma, espírito ativo e de coração reto. Como a morte tem a capacidade de transformar estrupícios em pessoas honradas. É um verdadeiro milagre brasileiro.

Fico pensando em qual seria o epitáfio colocado em algumas lápides, caso usássemos da franqueza chilena ou portuguesa: “Aqui jaz Maria. Finalmente a sua grande lingua se calou”. Teríamos também: “Lá se foi Alfredo, um homem que atazanou toda a sua família”. Sem falar naquela: “Aqui estão os restos mortais de Honório, o homem que não deixou saudades”. Não faltaria o epitáfio: “Aqui descansa Etelvina. Enfim, parou de murmurar.” E, numa mais sintética, leríamos: “Aqui estão os restos do sem caráter do Risbólio”. Se a nossa sinceridade se estendesse ao campo espiritual, poderíamos escrever na lápide de alguns: “Aqui está Norberto, que se lembrou de Deus tarde demais”.

Em contrapartida, há gente cuja vida foi tão rica, tão especial e tão virtuosa, que nos faltam palavras para descrever, na ocasião da morte, tudo o que ela significou para nós. Nessas horas, temos de lutar contra o lugar-comum para, com justiça, citar os feitos do falecido. Como a Bíblia diz que as obras acompanham o morto, precisaríamos de uma carreta para transportar as marcas da sua excelência moral, comportamental e espiritual. Mesmo assim, ouso imaginar frases que poderíamos pôr em túmulos de pessoas assim: “Turíbio, o homem que confiava nas promessas de Deus”. Outro epitáfio: “Homenagem dos filhos a Nara, a mãe que nos ensinou a amar a Deus”. Ainda: “Matilde foi uma mulher cheia de ternura e fé”. Ou, simplesmente: “Osório. Perdoado”.

Os Titãs têm uma música, chamada Epitáfio, que diz mais ou menos assim: “devia ter amado mais..., perdoado mais..., brincado mais..., ousado mais”. Mesmo que sua vida não tenha sido útil até aqui, comece hoje a mudar a história da sua vida e do seu epitáfio. Entregue-se nas mãos de Deus, e deixe que Ele a transforme. Que todos tenhamos muitas coisas boas a dizer de você, e que, enfim, o Pai Eterno, no final, diga: “Servo bom e fiel; entra no gozo do teu Senhor!”
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