4/27/11

A Arte de Deus nos Surpreender

Fico bastante impressionado com o bom humor de Deus nas páginas do Novo Testamento. E vejo essa boa disposição em vários momentos. Já no início do ministério de Jesus, quando ele vai escolher seus discípulos, o Senhor não os tira dos templos ou das sinagogas. Os apóstolos não são escolhidos entre os sacerdotes e fanáticos pela lei de Moisés, mas Jesus vai para a Galileia, uma vila pobre e insignificante, e chama rudes pescadores para segui-lo.

Deus nos prega peças, usando gente que nós nunca usaríamos. Para ganhar a sociedade machista de Sicar, na Samaria, ele usa uma mulher que costumava atraí-los, não por sua pureza ou por virtudes éticas. Ela era tão desgastada naquela sociedade, que só ia tirar água ao meio-dia, quando as mulheres de bem da vila já estariam fazendo almoço. Pois bem, Jesus conversa com ela, e a deixa tão intrigada, que essa mulher esquece seu cântaro no poço, e corre até a cidade, dizendo ao povo: “ venham, vejam um homem que me disse tudo o que tenho feito, não será ele o Cristo?” Pode uma mulher de vida torta, considerada demolidora de lares, ser usada por Deus para atrair à fé em Jesus a sociedade que a rejeita? Jesus prova que sim.

Nos seus últimos dias de ministério, Jesus passou por Jericó. E, em vez de visitar o mais respeitado rabino, ou o presidente da sinagoga da cidade, passa à noite na casa de um ladrão notório, o maior pilantra da cidade, Zaqueu, o odiado chefe da Receita Federal daquele lugar.

Mas a boa disposição e a capacidade de Deus nos surpreender chegam ao auge nos relatos da ressurreição de Jesus, trazidos por João. O primeiro testemunho de que o túmulo de Jesus estava vazio foi das mulheres (20.1-10). E, naqueles dias, mulher era ‘subnitrato de pó, de nada’. O testemunho de uma mulher jamais era digno de crédito, sendo considerado inferior ao de um homem. Por isso, em Lucas 24.11, os apóstolos pensaram que elas estivessem delirando.

Para piorar as coisas, na Sua sabedoria e bom humor, Deus se manifesta mais diretamente à Maria Madalena, que além de ser mulher, era da Galileia, e da aldeia de Magdala. A região era considerada tão notoriamente depravada e pecaminosa que, de lá, só eram esperadas coisas ruins.

E, se já não fosse pouco, para complicar e agravar o quadro, na história de Maria Madalena havia o registro de uma possessão demoníaca (Lc 8.2). Mesmo que tenha sido totalmente liberta, muitas vezes um endemoninhado é confundido com um louco. É que a linha de percepção de um ou de outro é muito tênue. Assim, Deus permite que tenhamos aqui uma testemunha que facilmente poderia ter sido questionada pelo “emocionado relato de que vira um morto viver novamente”.

Então, as notícias mais espetaculares na história espiritual da humanidade foram confiadas, primeiramente, a pessoas que, pelos padrões humanos, tinham menos gabarito para proclamá-las. E aquilo que não foi revelado a reis, sacerdotes e líderes religiosos, Deus revelou a uma mulher humilde, sofrida e, em certo sentido, desprezada pela sociedade.

No seu bom humor, Deus tem prazer em esconder coisas grandes e importantes dos sábios e eruditos, e revelá-las aos pequeninos (Mt 11.25). A história de Maria Madalena acena para o fato de que, num mundo arrogante e incrédulo, Deus constantemente tem prazer em usar as testemunhas mais humildes para que sejam porta-vozes da Sua graça, dos Seus propósitos, da esperança, e da Sua sabedoria e vitória.
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