3/1/11

Vida de Lagarta ou de Borboleta?

Na infância, tinha um medo que me pelava de lagarta. Adquiri este pavor quando, certa vez, uma lagarta verde, espichada, subiu nas minhas costas e me queimou.
Daí em diante, uma das minhas vinganças favoritas era pisá-las ou queimá-las, com requintes de maldade. Lá na nossa casa, no subúrbio do Rio, volta e meia elas apareciam no quintal e eu, seu arqui-inimigo, tratava de dar cabo delas.

A vida deu voltas, cresci, tornei-me cidadão urbano e nunca mais vi nem me preocupei com lagartas. A única experiência de que me recordo foi na juventude, em Fernandópolis, SP. Era seminarista e fui fazer trabalho de férias na igreja batista local. Fiquei hospedado na casa pastoral da igreja, desocupada, e, emocionado, acompanhei a transformação de uma lagarta horrível numa linda borboleta.

Ocorre que moro há anos próximo a uma reserva florestal. A minha casa é cercada por matas e árvores por todos os lados. Por isso, embora viva a cinco minutos do centro de Terê, convivo com besouros, lagartas, mariposas e aranhas.

Há duas semanas, uma pequena lagarta tomou um rumo diferente. Tendo ela tantas opções de espaço, escolheu logo o portão de entrada da minha casa para submeter-se ao processo de transformação em borboleta. Por isso, nestas últimas semanas, entre inúmeras idas e vindas, acompanho a transformação da lagartinha.

No início, fiquei preocupado, achando que aquilo não iria vingar. Onde já se viu escolher um lugar tão movimentado e impróprio! A gente vive abrindo e fechando, trancando e destrancando, balançando pra lá e pra cá aquele portão. Talvez por inexperiência, a velha lagarta pensasse que escolhera um lugar sossegado, onde ninguém a perturbasse. Coitada, ela não sabia nada acerca do funcionamento de um portão. Fui tentado a intervir, dando-lhe uma ajudinha. Mas como havia lido aquela história do homem que tentou facilitar o processo, cortando o casulo e o resultado foi triste, sustei meu ímpeto. Agora, já aparece a formação das asas. Os pelos pretos da lagarta deram lugar a uma camada que parece matéria plástica, chamada quitina, e a coisa vai a meio do caminho. Sei como se dá o resto do processo: a crisálida arrebenta pelas costas e, finalmente, a borboleta sai, com suas asas todas úmidas e embrulhadinhas. Depois que as asas secam ao sol, ela está pronta para voar!

Conheci pessoas que eram verdadeiras lagartas. Gente que andou grande parte da sua vida se arrastando pelo chão, de pecado em pecado, incapaz de alcançar vôos maiores. Pessoas que por onde passavam destruíam sonhos e coisas bonitas à sua volta, como a largata destrói plantas e jardins. Foi um marido alcoólatra ali atrás. Foi um filho desobediente aqui. Foi uma mulher fútil e infiel acolá. De repente, passaram por um processo dificílimo, precedido por crises e mais crises. Até que, rendidas pelo amor de Deus, pela metamorfose do arrependimento sincero e da conversão a Cristo, foram transformadas em borboletas pelo maravilhoso poder do Evangelho. A vida então passou a ter um colorido diferente. Descobriram um novo mundo, cheio de belezas e coisas novas. Deixaram de comer plantas e folhas da maldade e passam a se alimentar do néctar da Palavra de Deus. Largaram o chão, ganharam asas e agora são cidadãos do céu.

O problema é que tenho visto muita lagarta sendo pisada ou queimada pelo mundo, e morrendo como mera lagarta. É o ser humano profano, materialista, que só se preocupa com seus instintos humanos. Gente a viver 10, 20, 40, 60, 70 anos neste mundo como lagarta, sem saber que Deus tem um propósito muito melhor para a sua vida. Não sabe que pode se tornar borboleta. Não sabe que, em Cristo, aquela vida pesada, arrastada e sem brilho, se transforma numa vida leve, cheia de luz e passar a desfrutar as coisas do céu.

Fiz também outra descoberta: mesmo que a pessoa esteja se encostando num portão, com uma vida agitada e inconstante, o evangelho é suficientemente forte para resolver o seu problema. O único movimento capaz de impedir a atuação de Deus no interior da sua vida é a sua vontade. O resto, você pode deixar nas mãos de Jesus. Ele é forte o bastante para transformar a sua vida onde você estiver.

Já é tempo de conhecer e experimentar a graça transformadora da mensagem de Jesus Cristo. Quero lhe fazer uma única pergunta: tem vivido como lagarta ou como borboleta?
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