3/25/11

Por Fora Bela Viola, Por Dentro Pão Bolorento.

Quem vê os anúncios de TV das nossas instituições bancárias fica realmente encantado. Cada qual mais solícita e preocupada com o bem-estar dos seus clientes. E já reparou nos seus slogans? Um é “o banco que foi feito para você“. O outro “quer realizar seus sonhos“. Há o que “quer crescer com você“. Alguns dizem: “fale com o gerente!” Mas, vá lá tentar conversar com ele. Você vai tomar um chá de cadeira tal que passará todo o dia à sua espera, e, se calhar, não conseguirá chegar nem ao subgerente.

Na minha adolescência, costumava parar no Bob’s e pedir um Big Bob. Era um sanduíche tão grande, que tinha de pegá-lo com as duas mãos. Só que, com o passar dos anos, em que pese o preço sempre aumentar, o sanduíche foi encolhendo, e hoje deveria se chamar Mini Bob. Mas, no cartaz, lá está o velho Big Bob: grande, belo, e apetitoso. Decepcionado, constato que a foto é sempre muito mais bonita do que o sanduíche.

Quem leu “Bênção e Maldição”, do Pastor Jorge Linhares, se deparou com muitos testemunhos, querendo provar que “há poder em nossas palavras”. É o carro que dava pane, porque foi construído por ímpios, e que ele orou, abençoando-o, e ele nunca mais deu problemas. É o pé de abóbora que nunca ia pra frente, mas que ele a “abençoou“, dizendo: “eu te abençôo, ó aboboreira!” Três meses depois estava cheinho de abóboras. O Pastor Isaltino Gomes Coelho Filho, analisando o livro, disse: “deveríamos chamar esse homem para resolver o problema da seca do nordeste”. E pensar que o governo está gastando uma nota preta na transposição do Velho Chico, e temos uma solução muito mais simples. Sem dúvida, ele deveria ser contratado pela FAO para acabar com a fome no mundo. A verdade é que o livro é sempre mais fascinante que a realidade. E ainda há gente crédula nisso!

Quem leu “Os Carismáticos”, de John MacArthur, Jr., uma publicação dos anos 80, se deparou com as diversas narrativas de cura em cultos pentecostais. O autor fala num médico que resolveu checar a saúde das pessoas que se disseram curadas nos cultos da televangelista Kathryn Kuhlman. Primeiro, reparou que muitos daqueles doentes que vieram em cadeiras de rodas, e se declararam curados no culto, voltavam pra casa em cadeiras de rodas. E, dos 82 casos, 23 foram entrevistados, e a sua conclusão final era de que, infelizmente, “nenhuma das chamadas curas era legítima”.

Creio em milagres. Inclusive, já fui alvo do poder miraculoso de Deus. Mas, não posso discordar do Pastor Ed Renê Kivitz, quando diz que “o evangelho apresentado pelos evangélicos é mais bonito na televisão do que na vida”. E acrescenta: “Os testemunhos dos abençoados são mais espetaculares do que a realidade dos cristãos comuns. De vez em quando fico assistindo estes programas, e penso que é jogada de marketing, testemunho falso. Mas o fato é que podem ser testemunho por amostragem, isto é, entre os muitos que faliram, há sempre dois ou três que deram certo. O testemunho é vendido como regra, mas na verdade é apenas exceção”.

Deus deseja “a verdade no íntimo”. Ninguém precisa forjar milagres, curas ou qualquer outra coisa para mostrar um Deus poderoso. Deus não precisa de marketing; falsos profetas, sim!
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