2/25/11

A Nossa Geração Gospel

Previamente contratado para ‘abençoar’ o culto, o cantor gospel chegou atrasado. Naquela altura, o dirigente mandou que abrissem a Bíblia em Efésios. Deram uma Bíblia para o cantor, e ele não sabia onde ficava Efésios. Abriu-a no Antigo Testamento e ficou procurando, procurando... Finalmente, chegou a hora dele atuar e, com todo aquele seu rico conhecimento bíblico, sempre deixava um sermãozinho antes de atacar a próxima música. No final, todos saíram alegres e animados. Ele também, pois o seu cachê foi pago integralmente.

Um desses dias, um Pastor foi convidado para pregar num congresso jovem, num feriado, em um lugar afastado. Saiu de casa deixando toda a família. Ao chegar lá, notou que o templo estava lotado, com muita gente do lado de fora. Não havia mais espaço. É que o grupo gospel que ia cantar estava em 1° lugar no hit parade das rádios evangélicas. O pastor pregou, e Deus o usou, havendo muitos decisões. No final, a igreja se cercou de tanta preocupação com o grupo vocal(autógrafos, fotos, vendas de cds e segurança), que se esqueceu do pregador, que saiu de lá sem receber sequer um ‘boa-noite’.

Houve uma época em que se ia ao culto para ouvir a voz de Deus, refletir sobre a vida e deixar o Espírito Santo moldar o coração. A época passou. Hoje em dia o que vale é o entretenimento. Hoje se vai ao culto para ouvir um cantor gospel, ou para se estrebuchar com uma banda evangélica. Como diria Bill Ichter, “querem algo que mexa com os pés, não com o coração”.

Como num show, as pessoas vão aos cultos, mas já não carregam Bíblias, trazem máquinas fotográficas. É mais importante tirar uma foto com o cantor gospel, do que meditar na Palavra de Deus. Enche mais o ego trazer um cd novo autografado que trazer o coração marcado pela voz de Deus. É também mais importante saber quem vai cantar do que quem vai pregar. É que a música tornou-se central no culto evangélico. Dá-se mais tempo para ela do que para a mensagem bíblica. É a parte mais apreciada e difundida. Valoriza-se mais o que se fala para Deus, do que aquilo que Deus tem a dizer. O importante não é o que se crer, mas o liberar das emoções. Não poucas vezes, as pessoas estão tão cansadas após os cânticos, que sobra pouco ânimo para ouvirem o sermão. Os crentes já não querem pensar nem aprender, só querem se emocionar. Vê-se isso na postura de muitos ‘líderes do louvor’ (título inadequado, pois na verdade eles lideram cânticos, porque louvor é todo o culto). Eles só ficam no templo enquanto estão no palco. Encerrado o período, saem. Que não se conte com eles para um tempo de oração, meditação e submissão a Deus.

Com tudo isso, o culto é antropocêntrico. Voltado para o homem, não para Deus. Eis aí a geração de crentes mais egoístas de que se tem notícia nestes últimos séculos. Não ama a Deus nem o obedece. Só quer festa e as suas bênçãos. Mas, Deus se interessa mais com que o obedeçamos do que com o que nós cantamos. Já entendeu porque, apesar do seu número crescente, esta geração de evangélicos não transforma este País ?
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