1/21/11

Deus Joga Xadrez

Ia para o último ano do seminário e vivia a expectativa de algum contacto com uma igreja batista, com vistas ao pastorado. Já tinha ido muitas vezes para o Rio Grande do Sul e queria conhecer outro campo. Surgiu, então, oportunidade para conhecer igrejas no Paraná. Meu pastor tinha muitos conhecimentos ali, e me assegurou que era um ótimo lugar para se iniciar um ministério pastoral.

Apareceu no seminário um representante da junta executiva dos batistas paranaenses. Como fazia outra faculdade e tinha prova, diante de dezenas de seminaristas candidatos, pedi licença e fui dizendo: “eu quero fazer trabalho de férias no Paraná. Posso trabalhar lá quatro semanas. Gostaria de conhecer quatro igrejas, ficando cada semana numa. Faço de tudo: EBF, conferências evangelísticas, doutrinárias, etc”. Fui aceito.

Meses depois, finalmente, cheguei a Curitiba e fui recebido pelo Pastor Altair Prevedello, executivo do Campo. Ele era tio da namorada do meu irmão. Olhou o meu roteiro de igrejas, e disse: “se eu soubesse que era você!..” Percebi que haveria alguma coisa diferente daquilo que planejara.

No outro dia, cedo, cheguei a Antonina e bati à porta dos irmãos que me levariam para a igreja batista de Cedro. Naquele tempo, só havia acesso a Cedro de barco. Como estava todo mauricinho, aqueles irmãos me perguntaram: “ao chegar ao Porto, o irmão vai tirar o sapato, não vai?” Suspeitei que seria comido por insetos, e perguntei: “há muitos borrachudos lá?” Todos me garantiram que não. Pegamos o barco e me lembrei do antigo seriado “Jim das Selvas”. As largas margens do rio Cedro iam se fechando, as margens ficando estreitas e quando chegamos a 2,5m de largura paramos num barranco. Era o tal Porto. Eu, de sapato bico fino, calça de tergal e uma imensa mala para carregar. Andamos por uma trilha 4 Km. Caí duas vezes, até que um irmão se ofereceu para levar a minha mala. Finalmente, chegamos à igreja: um barraco, com lugar para umas 120 pessoas. Ao lado, a casa de hóspedes, que abrigava visitantes em trânsito.

À tardinha fiz a minha primeira Escola Bíblica de Férias com 80 crianças. Pedi que trouxessem copo, pois serviria Q-Suco. Foi um sucesso. Muitas caminharam mais de 12 Km para virem à EBF. À noite, fiz a primeira pregação evangelística e o rude capataz do novo dono daquelas terras, homem que ameaçava destruir aquele templo, se converteu. Ele, a esposa e uma filha. Não consegui dormir, lutei durante toda a noite com os borrachudos.

No outro dia, com raiva de Deus, dizia: “com tanto lugar com igrejas que querem convidar um pastor, o Senhor foi me trazer logo pra cá?” Naquela semana mais de trinta pessoas entregaram a vida a Cristo. Queria convite para pastorear, Deus me enviou para pregar. Queria conforto, mas Deus me levou a um lugar carente. Queria arrumar minha vida, Deus queria salvar pessoas. Queria grandeza, Deus procurava um servo. Louvado seja Deus que não me levou para outro lugar. Ali em Cedro aprendi que “muitos são os planos no coração do homem, mas o que prevalece é o propósito do Senhor” (Pv 19.21).

Uma vez David Neff disse que “Deus não joga dados”. É que o fundamento do jogo de dados é a sorte e o acaso. Deus joga xadrez, pois xadrez envolve estratégia. Um bom jogador de xadrez vê cinco, seis jogadas na frente. É capaz de entregar uma peça importante ao adversário para, daqui a três jogadas, dar xeque-mate. Deus é assim. Ele é o Senhor das possibilidades. Não fica limitado às nossas jogadas e planos. No final, Ele é capaz de fazer com que tudo se encaixe nos seus bons propósitos. E os bons propósitos de Deus são uma fonte de bênçãos para as nossas vidas.
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