12/16/10

A Ousadia de Recomeçar

Há dois anos, o Coro Infantil da nossa igreja apresentou o musical de Natal,“Anjos, Preparem-se!”, de Celeste Clydesdale. Era, então, a vez de Caio Liszt, filho de Hezil e Bergson, fazer o prelúdio do culto, ao piano. Ele tocava o hino “Cantam Anjos Harmonias”, quando, de repente, ficou travado numa nota musical que insistia em sair errada. Então parou. Voltou-se para a congregação com um gesto manual, tipo: “esperem aí” e, tranquilo, disse: “vou começar de novo”. Reiniciou o hino e tocou tudo certinho.

Caio, de oito anos, teve a coragem de recomeçar, coisa que muito adulto velho não tem. Como é difícil recomeçar! É preciso ter muita bravura para tal. Ah!, quanta gente andando por aí necessitada de fazer uma revisão na vida; tropeçando na partitura da alma, produzindo sons dissonantes e, tal como o Caio, precisando reavaliar a sua situação; parar, e começar de novo. Gente com a vida desafinada, insistindo no erro, como se tudo estivesse bem.

Música é uma coisa muito boa. Ela toca o nosso coração; trás enlevo e emoção; atiça boas recordações e, não poucas vezes, atinge maravilhosamente a nossa alma. Mas, música desafinada é desconcertante. É uma espécie de punhalada no nosso coração. É um golpe cruel nos nossos ouvidos. Incomoda. Irrita. Constrange. Causa mal-estar. E o pior: por menor que seja a peça, música mal executada demora a terminar.

Para recomeçar é preciso, primeiro, humildade de reconhecer que a coisa não está boa. É preciso assumir que o erro é nosso. Caio não ficou arrumando desculpas. Não procurou um bode expiatório nem justificou as suas falhas. Ele estava insatisfeito com a sua exibição e assumiu publicamente que não estava bom. Então, tomou a decisão correta: começar de novo.

Caio também não ficou acomodado com a sua má apresentação. Ele, rapidamente, percebeu que podia fazer melhor. Sabia que podia apresentar algo mais bonito e atraente. Tinha certeza de que podia conseguir uma execução mais agradável. Poderia alçar voos mais altos. O seu coração palpitava por um patamar mais ousado como pianista. Mesmo porque estava num culto, tocando para Deus. Então, abandonou o erro e recomeçou.

Pensando bem, muita gente nunca mudou nem vai mudar porque nunca teve a humildade nem a ousadia do Caio. Vai empurrando com a barriga a sua vida, cheia de falhas e de incorreções, fingindo que está tudo bem, e pensando que ninguém está ouvindo ou vendo o seu fracasso.

Mas, ao assumir a sua má situação, Caio ganhou a nossa admiração. Começamos a torcer para que sua execução desse certo. Acompanhamos com santa expectativa cada nota que dedilhava ao piano. E, contentes com seus acertos, apreciamos o seu progresso.

Naquele domingo, Deus usou o Caio para nos ensinar que nunca é tarde para recomeçar. Ele nunca se desaponta com os nossos erros, desde que os reconheçamos. Afinal, os piores pecadores foram muito bem aceitos por Jesus quando reconheceram que necessitavam da sua misericórdia para recomeçar.

Que tal aproveitar este final de ano para fazer uma avaliação espiritual da sua vida. Abandone as notas dissonantes e peça a Deus uma alma mais sintonizada com o seu diapasão. Pare. Recomece. Não se afaste dos acordes majestosos que Deus escreveu para a sua vida e peça a ajuda do Mestre para recomeçar a carreira afinado com os Seus propósitos. E que sua vida seja uma belíssima canção de louvor a Deus no próximo ano. Feliz ano novo!
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