12/31/10

Crentes Fiéis Doentes Sim Senhor!

O pregador na TV dizia, com voz suave e cativante: “a enfermidade não existe. Ela é uma mentira porque ela é do diabo, e o diabo é mentiroso.” Depois disso, para defender que os cristãos não mais ficam doentes ou que Jesus nos cura de todos os males, usou Isaías 53.4: “Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si...”

De fato, Jesus foi ferido para que pudéssemos ser curados. Mas isto é uma linguagem figurada para mostrar que o castigo que nós, pecadores, merecíamos, foi suportado por Jesus, nosso substituto. Dizer que Jesus, na cruz, levou todas as nossas doenças físicas e por isso o crente verdadeiro não fica doente, é violentar a graça de Deus e desconhecer o Novo Testamento.

O evangelho chegou aos Gálatas porque o apóstolo Paulo ficou doente: “como sabem, foi por causa de uma doença que lhes preguei o evangelho pela primeira vez” (Gl 4.13). A Igreja de Filipos enviou uma oferta ao apóstolo por mãos de Epafrodito. Quando lá chegou, ficou doente e quase morreu, mas Deus teve misericórdia dele (Fp 3.27,28). O pastor Timóteo tinha gastrite e frequentes enfermidades (1 Tm 5.23) e Paulo deixou seu companheiro Trófimo doente na cidade de Mileto (2 Tm 4.20). O apóstolo também tinha um espinho na carne crônico, que o machucava. Paulo acabou dando graças a Deus por ele (2Co 12.7-10). Além disso, quando Lázaro ficou doente, suas irmãs mandaram o seguinte recado a Jesus: “Aquele a quem amas está enfermo” (Jo 11.3). Elas sabiam que Lázaro era amado por Jesus e, mesmo assim, ficou doente. Em nenhum desses textos a Bíblia sequer insinuou que a doença e a dor eram uma grande mentira.

Vivendo num mundo pecaminoso é natural ficarmos doentes. Adoecemos por herança genética, por contaminação, por acidente e por não cuidarmos do corpo. Além disso, nunca devemos nos esquecer de que vivemos a tensão entre o já e o ainda não. Ou seja: nós já fomos salvos, mas ainda não somos participantes da glória de Cristo. Já fomos perdoados, predestinados, justificados, estamos sendo santificados, mas ainda não fomos glorificados. Chegará um dia quando seremos glorificados e aí não haverá mais dor, nem lágrimas, nem morte ou pranto (Ap 21.4; 22.2).

Além do mais, o texto de Isaías que mostra Jesus levando nossas enfermidades também ensina que ele carregou todas as nossas dores sobre si. Seria o caso de o crente verdadeiro nunca mais sentir qualquer dor física. Seria muito bom também observar se esses pregadores têm alguma obturação dentária ou se usam óculos. Em caso positivo, peça-lhes, por favor, um pouco de coerência.


Atribuir enfermidade à ação do demônio na vida de uma pessoa, que já está sob assistência médica, é pura maldade. Só acrescenta dor moral a quem já está sofrendo dores físicas. Pois agora, além do sofrimento físico, têm de suportar a acusação de culpa pela doença. Como bem diz o Pastor Falcão Sobrinho: “devemos ser consoladores e não acusadores dos nossos enfermos”. E lembre-se: Satanás só pode agir diretamente na vida de um filho de Deus por permissão especial de Deus, como no caso de Jó.

Creio em milagres. Creio no poder da oração. Inclusive, já fui curado milagrosamente. Mas tenho visto servos fiéis do Senhor caindo doentes e morrerem, não obstante as orações sinceras do povo de Deus. Tenho visto que, mais que curar fisicamente, Deus quer restaurar o homem por inteiro. Ele cura alguns da enfermidade e outros são curados na enfermidade. São crentes que, em meio ao sofrimento, enfrentam esta hora com tranquilidade por causa da sua fé em Cristo. É que o evangelho não é somente o que Jesus quer fazer por nós, mas o que Ele quer ser nas nossas vidas. No fim, podemos dizer: “Se vivemos, para o Senhor vivemos; e, se morremos, morremos para o Senhor. Assim, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Rm 14.8).
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