11/14/10

Em Nome de Jesus, Chore!

Quem acompanhou o vídeo do culto de despedida do saudoso Pr. Manoel Xavier dos Santos Filho, acometido de câncer, deve se lembrar do momento em que ele disse que uma crente chegou perto dele, e afirmou: “Esta doença não lhe pertence”. A resposta do Pr. Xavier foi: “Se não é minha, me diga de quem é, pra eu devolver, porque não quero ficar com nada que seja dos outros”.

Vivemos dias em que crentes negam doenças e dores, como se isso fosse demonstração de fraqueza de fé. Então, está doendo muito, mas o sujeito diz: “Em nome de Jesus não está doendo”. Só que o estoicismo não é doutrina cristã. O estoicismo, escola filosófica fundada por Zenon, pregava a abstração da dor. O seu ideal era atingir a apatia, e a indiferença em relação a todas as emoções. Os estóicos ensinavam: “desprezai a pobreza: ninguém vive tão pobre quanto nasceu. Desprezai a dor: ou ela terá um fim ou vos dará um. Desprezai a morte: a qual vos finda ou vos transfere. Desprezai o destino: não dei a ele nenhuma lança com que ferisse o espírito”.

Jesus não foi estóico. Apesar de ser perfeito em sua humanidade, ele não viveu sem emoções. Jesus chorou publicamente duas vezes. Uma quando contemplou a incredulidade de Jerusalém. Ele disse: “Quantas vezes eu quis.... mas tu não quiseste!” (Lc 23.39). Chorou diante da morte do seu amigo Lázaro. O texto diz que ele “ficou muito perturbado” (Jo 11.33). O verbo usado, enebrimesato, indica indignação. Jesus chorou não por estar com uma tristeza incontrolável, mas com uma fúria irreprimível. É que a morte não fazia parte do propósito original de Deus, e por isso é chamada de "o último inimigo a ser destruído”. Ela trazia à memória a ação do seu arquiinimigo e de toda a raça humana. Jesus chorou também lágrimas de simpatia pelas irmãs enlutadas. Então, ele sentiu indignação e compaixão. Bufou de raiva e chorou.

Os evangelhos também dizem que Jesus sentiu pavor. Em Mc 14.33 é dito que, no Getsêmani, ele “começou a ter pavor e angustiar-se”. Note, quem ficou apavorado não foi Judas, o traidor. Foi Jesus. Há uma versão que diz que ele sentiu “grande tristeza e aflição” (BLH). A palavra grega denota pavor interior, como se a sua personalidade se desintegrasse. Afinal, ele estava carregando uma culpa que não tinha. Ele veio ao mundo e experimentou tudo isso. Então, passar por aflições, sentir-se angustiado, desesperado não é sinal de falta de fé. Isso pode acontecer com qualquer pessoa, e até mesmo com a melhor delas. Lembre-se: nenhum de nós é mais espiritual do que Jesus.

O apóstolo Paulo, no final dos seus dias, reconheceu que precisava de ajuda. Ele pediu a Timóteo que fosse ao seu encontro rapidamente, pois estava se sentindo sozinho na prisão (2Tm 4.9). Afirmou que foi abandonado por alguns, traído por outros e que sentia frio. E que na hora em que precisou dos amigos nenhum veio para estar ao seu lado, só o Senhor (2Tm 4.16,17). Gosto da sinceridade do apóstolo. Ele não disse: “Em nome de Jesus não estou com frio!”, ou “Tenho Jesus, e não preciso de mais ninguém!” Paulo era um homem de fé, mas precisava do calor dos amigos e de um cobertor.

Davi já dizia que Deus deseja a verdade no íntimo (Sl 51.6). Deus nos fez seres emotivos. Todos os cristãos, pelo menos de vez em quando, temos sentimentos tanto de profunda tristeza como de profundo gozo. Então, meu irmão, quando estiver triste, não tenha medo de chorar. Quando estiver difícil, não tenha vergonha de pedir ajuda. Quando estiver doendo, diga que dói. Muitas vezes no seu clamor, na sua dor e tristeza Deus providenciará outros irmãos em Cristo que serão ombro, socorro e consolo do Senhor para você.
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