10/1/10

Mais pra Chapolim do que pra Super-Homem

Você já parou para pensar porque gosta de ler o livro de Salmos? Muitos não crentes já me disseram que, na Bíblia, se identificam muito com os salmos. Até mesmo o crente, quando não tem muito tempo para ler as Escrituras, busca um salmo.

Tenho pra mim que gostamos dos salmos por causa dos salmistas. Eles são de carne e osso. Eles têm nervos como a gente. Cantam vitórias, sim, mas as vitórias são em meio a lutas, dificuldades, quedas e não poucos fracassos. Eles também abrem o coração, dizendo pra Deus coisas que nós, ainda hoje, ficamos sem jeito de dizer. Veja o que diz Asafe: “Quanto a mim,...pouco faltou para que os meus passos escorregassem. Pois eu tinha inveja dos soberbos ao ver a prosperidade dos ímpios.” Pense qual foi a última vez que você ouviu um pastor ou um líder religioso confessando algo parecido? Afinal, se ele disser isso, o que vão pensar dele? E o que dizer daqueles salmistas que, quase perdendo a paciência, dizem a Deus: “Até quando, ó Deus, o adversário afrontará?” Ou ainda: “Ouve, ó Deus, a minha voz na minha queixa...”.

Gosto quando eles falam do seu estado de ânimo. São tão diferentes desses crentes de hoje, que nunca ficam tristes e abalados. Não, os salmistas são fracos como eu e você, e muitas vezes duvidam, choram e se abatem. Veja: “desde a extremidade da terra clamo a ti, estando abatido o meu coração” , ou “ por que está abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim?” ou ainda: “Estou curvado, estou muito abatido, ando lamentando o dia todo”.

Gosto deles porque não se parecem em nada com esses cristãos da nossa heróica geração evangélica, que nunca ficam doentes, nunca têm indisposição, nunca sentem dúvidas e jamais sentem medo. Eles, não. Confessam que estão mais pra Chapolim, o anti-herói do Chaves. Por isso, dizem: “tira-me das minhas angústias”, “a minha força secou-se como um caco”, “mas eu sou verme, não homem, opróbrio dos homens”, “o meu humor se tornou como sequidão de estio”, “sou como um vaso quebrado”, “os que me vêem na rua fogem de mim”.

Os salmistas também pecam. Aprendem com os seus pecados, e transformam seus fracassos em experiências marcantes com Deus. Como eles são humanos! Não têm vergonha de confessar suas faltas. Até o rei Davi, que foi protagonista do maior escândalo na sociedade dos seus dias, confessou sua falta. Além de roubar a mulher do seu general, que lutava por ele na guerra, ainda tramou para que fosse morto nas mãos dos inimigos. Diante de tamanha vergonha, qualquer pessoa faria de tudo para que essa página fosse arrancada da sua biografia. Davi fez diferente. Escreveu dois salmos confessando seus pecados e dores, mostrando como clamou por perdão e como Deus se compadeceu dele. Veja: “Enquanto guardei silêncio, consumiram-se os meus ossos pelo meu bramido durante todo o dia... confessei-te o meu pecado, e a minha iniqüidade não a encobri. Disse eu confessarei ao Senhor as minhas transgressões, e tu perdoaste a culpa do meu pecado”. “Apaga as minhas transgressões... lava-me completamente da minha iniqüidade, e purifica-me do meu pecado. Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim”. Deu a volta por cima não escondendo o fato, mas confessando seu erro e clamando por misericórdia.

Os heróis da Bíblia têm pés de barro. Abraão mentiu e deixou sua mulher em má situação duas vezes. Moisés matou um homem. Davi adulterou e matou. Pedro negou a Jesus. Paulo fez terrorismo contra os cristãos e consentiu na morte de Estevão. A única virtude deles foi reconhecerem e confessarem seus erros, arrependerem-se deles e obterem o perdão de Deus, pela Sua Graça. Você está mais para Chapolim Colorado do que para Super-Man? Há grande esperança para você, pois Deus é misericordioso e, assim como usou esses homens, também quer usá-lo para a Sua glória.

Pr. Renato Cordeiro de Souza.
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