10/25/10

Chorando em Ouro Preto

Visitando meu filho, em Belo Horizonte, MG, aproveitei para voltar a Ouro Preto. Fui na véspera do feriado do dia 12.10. Aliás, eu e quase quinhentas mil pessoas tivemos a mesma idéia. Ouro Preto estava lotada.

Ver os velhos casarios, visitar museus e entrar em algumas capelas e igrejas, ir a restaurantes, comprar artesanatos em pedra-sabão, fotografar, e ter disposição para subir e descer ruas de paralelepípedos é a agenda de quem se dispõe a rever a velha Vila Rica. Comigo não foi diferente.

Na hora de entrar nas igrejas, como são muitas, e as entradas todas pagas, optei por ir a mais badalada. Enquanto fotografava, casualmente ouvi a conversa de um rapaz que fizera um périplo por elas, e apontava a Igreja de Nossa Senhora do Pilar como a mais bonita da cidade. Como não queria me decepcionar, voltei-me para ele - que saía da Igreja de São Francisco de Assis, a mais famosa, por ser um magnífico exemplar do barroco com traços do Aleijadinho - e perguntei pela que mais gostou. O rapaz me confirmou: a mais bonita era a do Pilar. No seu acervo havia mais de quatrocentos anjos esculpidos e na sua ornamentação foram empregados quatrocentos quilos de ouro e outro tanto de prata. Sem dúvida, era a mais rica do lugar. Além disso, embaixo há um museu de arte sacra. A namorada, ao seu lado, acrescentou: “fiquei tão emocionada que chorei”. Então, me decidi. Também quero chorar no Pilar.

Descemos até a Igreja do Pilar. Pagamos e fomos ver “a bênção”. Entrei e, em vez de ficar encantado, comecei a ficar deprimido. Aquelas faces de anjos, com todos aqueles rococós, ouros, e relíquias barrocas me traziam uma tremenda agonia. Era ambiente pesado, fechado e triste. Havia riqueza, suntuosidade, mas não havia vida. Aquilo tudo me sufocava. E o que fascinava e deleitava as pessoas, simplesmente não me abatia. Havia religião, mas nada que me levasse a Deus. Para mim, a vida estava lá fora, no ar e nas montanhas. Definitivamente,as coisas que os homens tentam fazer pra Deus, por mais esplêndidas que sejam, não se comparam com aquilo que Deus faz por nós.

Desci até o museu e o meu mal-estar aumentou., pois ali li que, na época áurea, o governo português proibiu a instalação de ordens religiosas na cidade, para que o ouro não fosse parar nas mãos da Igreja Católica. Então surgiram as associações e confrarias. E aí começaram as disputas. Como as pessoas diziam que “de nada adianta todo o ouro do mundo se não for possível ostentá-lo”, a fé se transformou numa demonstração de status, riquezas e poder. Os devotos participavam de rituais religiosos, não pensando em Deus, mas voltados para si.

Jesus gostava de mar, de monte, de praia e de gente. Então me lembrei de John Stott, dizendo: “O Deus que muitos de nós cremos é religioso demais”. E também me lembrei que passeando com meus filhos, quando eles eram pequenos, dizíamos: “Agora só vale cantar hinos ou cânticos que tenham a palavra ‘monte’, ‘luz’, etc.” E saíamos cantando e louvando a Deus juntos. Assim, a nossa adoração era do lado de fora, na rua, no carro, no monte, na praia, com a família unida, fazendo um passeio feliz.

Ouro Preto alicerçou em mim esta convicção: Precisamos de menos religião, e de mais comunhão com Deus.
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